Com qualidade de cinema, ritmo contemplativo e grandes atuações, 'Pantanal' vai conseguir manter o público interessado?
A estreia de Pantanal nesta segunda-feira (28) fez jus ao investimento da Globo em seu relançamento do horário mais nobre de suas produções para a TV. Com qualidade de cinema, cenas belíssimas e uma atuação brilhante de Irandhir Santos, a novela chegou a registrar picos de audiência acima dos 30 pontos, números sólidos, mas ainda tímidos para as pretensões da emissora.
No primeiro capítulo, Juventino, personagem vivido pelo ator pernambucano, surge domando a natureza pantaneira. É lá que ele vai criar seu filho José Leôncio, interpretado neste início por Drico Alves, para ser seu sucessor. Num mundo dominado pelos homens, ele será criado como um autêntico exemplar de virilidade.
Em uma das cenas, o jovem menino descobre sua sexualidade ao lado da prostituta Generosa (Giovanna Cordeiro) em uma sequência ousada, mas sem erotismos gratuitos. Em outra, o pai surge fascinado pelos Marruá, bois bravos e indomáveis que simbolizam as dificuldades daqueles que pensam em domesticar uma região alvo de disputas.
É ali que também está Maria Marruá (Juliana Paes), mulher forte que vai mudar os destinos daquele lugar para sempre. Com uma atuação sempre carismática, a atriz mostrou que pode ser um dos grandes trunfos da trama, sobretudo porque se despiu da vaidade e se jogou com vontade em um personagem que está longe das mocinhas açucaradas que costuma interpretar.
As paisagens deslumbrantes, a beleza da trilha sonora e o ritmo lento, contemplativo, repetem a fórmula da primeira Pantanal, novela que fez a Globo suar na virada para os anos 90, época em que o domínio da emissora parecia intransponível. Por isso soa interessante que a trama seja justamente o produto escolhido pela emissora para resgatar o sucesso de suas produções.
Após ser obrigada a picotar o sucesso Amor de Mãe e improvisar reprises durante o período mais intenso da pandemia, a emissora jogou à própria sorte Um Lugar ao Sol, e recomeça com a novela assinada por Bruno Luperi a partir do original de Benedito Ruy Barbosa.
Neste início, a novela não pareceu datada ou ultrapassada. Na coletiva em que apresentou a produção para a imprensa, o autor garantiu que atualizou as tramas e fez pequenas mudanças para que o público não enxergasse a novela como uma trama "de época", gênero que gera muitas vezes uma desconexão.
"É a mesma história que estamos contando, mas trazendo ela trinta anos para frente. O advento do tempo é bem presente. A ideia é que aquela discussão proposta há trinta anos pelo meu avô, na versão original, aconteça hoje a luz do nosso tempo", explicou.
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Com Pantanal, a Globo busca na nostalgia e na beleza idealizada uma chance de reconquistar o público, que parte migrou para as plataformas de streaming e parte perdeu o costume de acompanhar telenovelas, produto longo, contínuo e que necessita de dedicação. Pantanal tem qualidades para reconquistar o horário, resta saber se o público vai se engajar nesse processo - ou se teremos outro belo produto que não conseguiu se conectar com a agilidade dos novos tempos. Veremos.
GUSTAVO ASSUMPÇÃO é jornalista e editor do site de CONTIGO!