Renomada atriz da Globo não queria que filho interpretasse homem gay, mas autor ignorou pedido e personagem ficou marcado como grande vilão
Publicado em 25/08/2024, às 07h30
Em 25 de agosto de 1986, Roda de Fogo estreava como substituta de Selva de Pedra e ocupava o horário das oito na Globo. Escrita por Lauro César Muniz, a trama focava na vida do rico, ambicioso e frio empresário Renato Villar (TarcísioMeira), que se apaixona pela juíza LúciaBrandão (BrunaLombardi), responsável por julgar as irregularidades de seu império, enquanto tenta seduzi-la para sair ileso.
Apesar do gancho do romance, como destaca o jornalista Nilson Xavier do site Teledramaturgia, a novela não se limitava aos casais apaixonados. A trama de Lauro César Muniz elevava o horário nobre com um enredo pesado sobre homens de meia-idade em busca de poder, além de construir um cenário fiel do Brasil pós-Ditadura.
O personagem de Tarcísio Meira, inicialmente um homem sem escrúpulos e sem a empatia do público, teve sua redenção e a vilania ficou a cargo de Cecil Thiré, que vivia o advogado Mário Liberato. Em entrevista à Contigo!, Lauro César revelou que a mãe do ator, a renomada Tônia Carrero, não queria o filho na novela com um papel de homossexual.
"Roda de Fogo foi um trabalho em que corri um risco sério com a homossexualidade, porque criei uma relação homossexual entre dois personagens masculinos, e era difícil para os dois fazerem, era o Cecil Thiré e Cláudio Curi. E eles fizeram com muito prazer, não que eles tivessem relação nesse sentido, mas é que eles viveram a coisa, o personagem era mais importante do que seus pontos de vista", conta o autor.
Para a alegria de Tônia Carrero, que não havia gostado da notícia, a novela sofreu muitos cortes de cena e a relação entre os personagens ficou implícita: "Houve cortes de cenas demais. E aí acabou que, na memória da teledramaturgia, a homossexualidade começou em Vale Tudo, o que não procede", afirma Lauro César.
O destaque de Cecil Thiré como vilão gay, entretanto, não agradou a todos. De acordo com Nilson Xavier, algumas entidades que lutavam pelos direitos da comunidade gay não gostaram de ver um personagem homossexual como vilão, ainda mais com a sexualidade citada de modo depreciativo. Na época, era comum ver personagens gays representados de forma estereotipada e tratados como se precisassem ser corrigidos.
Mesmo com os cortes e problemas relacionados à aceitação dos personagens, a novela fez sucesso na época e os looks usados por Bruna Lombardi, como afirma o Memória Globo, tomaram as ruas.