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Colunas / Gabriel Perline / ANDRÉ CARAMANTE

Record demite diretor de Jornalismo após denúncias de agressões e humilhações

André Caramante, que ocupava o posto de diretor de Jornalismo Investigativo da Record, foi demitido após quase dez anos de denúncias por assédio

Gabriel Perline
por Gabriel Perline

Publicado em 13/09/2024, às 16h20 - Atualizado às 18h02

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André Caramante foi demitido após a Record acumular um dossiê gigantesco de denúncias - Reprodução
André Caramante foi demitido após a Record acumular um dossiê gigantesco de denúncias - Reprodução

Após receber um alto volume de denúncias por assédio moral, acumuladas ao longo de quase dez anos, a Record efetivou na última quinta-feira (12) a demissão de André Caramante, diretor responsável pelo núcleo de Jornalismo Investigativo. Os atos relatados pelas vítimas extrapolaram o limite do aceitável e seu desligamento ganhou força após repórteres de grande calibre, que também atuam como apresentadores eventuais dos noticiários da casa, levarem suas reclamações à chefia. Gritos, xingamentos, ameaças, humilhações, constrangimentos, abuso de poder, agressão verbal e até agressão física constam entre as reclamações que chegaram ao departamento de Recursos Humanos da emissora.

A coluna procurou a Record para comentar sobre as denúncias e demissão do ex-executivo, mas até o momento não recebemos nenhuma resposta. Caramante também foi contatado, mas não nos respondeu até a publicação desta reportagem. Já as inúmeras vítimas ouvidas por nossa reportagem resolveram relatar os dias de horror que alegam ter vivido enquanto eram subordinadas ao jornalista. A pedido delas, manteremos suas identidades em sigilo.

Caramante, segundo os relatos, tinha o hábito de gritar com qualquer subordinado e não se poupava de usar xingamentos para se referir a eles. "Imbecil", "mula", "incompetente", "idiota" e "estúpido" foram alguns dos adjetivos que ele teria usado com uma das vítimas ouvidas pela reportagem. E isso era dito abertamente, na frente dos demais integrantes da equipe.

Outro hábito assustador que ele tinha era o de chegar nas reuniões de pauta literalmente chutando a porta da sala, causando um enorme estrondo no recinto. O ex-diretor ainda tinha o costume de ameaçar os subordinados de demissão caso não cumprissem ordens que transbordavam o limite de suas habilitações enquanto chefe, como, por exemplo, obrigar alguém a fazer o dobro de horas de trabalho em um dia sem ter qualquer pauta a ser executada, ou até mesmo forçar que seus funcionários revelassem para ele o teor de conversas pessoais que tinham com outros colaboradores da emissora.

"Se ele me visse falando com uma repórter de outro núcleo, ele me chamava na sala dele e ficava me interrogando, de maneira incisiva, para saber o motivo da conversa. E ainda ameaçava me demitir caso descobrisse que eu estava compartilhando informações de alguma apuração de reportagens que estávamos preparando. E eu me recusava a dizer os teores de minhas conversas. Era como se não pudéssemos ter amizades na empresa, ou nem mesmo parar por 5 minutos para falar sobre amenidades enquanto tomava um café", relatou uma das fontes.

Um dos casos apontados pelas supostas vítimas de André Caramante foi o de um repórter que teria sido agredido fisicamente. Enquanto debatiam sobre os rumos de uma pauta ainda em processo de apuração, o ex-diretor teria encurralado seu funcionário contra a parede e pegado ele pelo pescoço. O caso foi notificado à direção de Recursos Humanos na ocasião, mas nenhuma providência foi tomada.

Outra suposta vítima dos excessos de Caramante chegou a desmaiar no refeitório da emissora por conta das cobranças por resultados. Ela estava em seu horário de almoço e o ex-diretor começou a pressioná-la por respostas, com insultos e xingamentos. A jornalista caiu dura no chão e precisou ser socorrida pela equipe médica de plantão na empresa. Mais uma vítima ouvida pela reportagem foi diagnosticada com Burnout e chegou a ficar hospitalizada por dez dias.

Nos relatos que obtivemos, os funcionários apontaram a desconfiança de que seus telefones fixos na Redação estavam "grampeados" pelo ex-chefe. "Não temos como provar, mas era muito esquisito, porque diversas vezes eu tive conversas com fontes sigilosas e chegava numa reunião e ele sabia todo o conteúdo. Aconteceu comigo e com outros repórteres", disse uma fonte.

Após investigar com mais afinco sobre seu desligamento, a coluna obteve relatos de jornalistas que trabalharam com André Caramante em outros veículos, como no coletivo Ponte Jornalismo, e relataram situações de constrangimento e degradação.

Após dez anos acumulando reclamações, a Record optou por desligar Caramante na tarde de ontem (12). A notícia foi muito comemorada pelos profissionais da emissora, e também por quem já diz ter sofrido em suas mãos. "Amanhã faremos um churrasco para comemorar essa demissão. Ele fez muita gente adoecer. Demorou para a Record tomar alguma providência, muita gente de alta competência sofreu em suas mãos", comentou uma das fontes.

A coluna segue com o espaço aberto para André Caramante e para a Record se manifestarem.