Em questão de minutos, é possível contar até oito veteranos em cena em Alma Gêmea, realidade inimaginável em novelas atuais da Globo
Não precisa nem ser fã assíduo de novela. Basta ouvir a TV ligada no Vale a Pena Ver de Novo da Globo, atualmente, que já dá para saber que está no ar uma trama de Walcyr Carrasco. Semanalmente, a reprise do folhetim segue com sua capacidade de seduzir, "uma vez mais", um novo (ou antigo) telespectador para o clã de devotos de um "novelão".
Entre as fórmulas que ajudam nesta fenomenal captação estão os tantos momentos com atores veteranos, prática adotada por Walcyr organicamente e muito antes de o etarismo vir à discussão - desde quando não se percebia ou se reparava tão notoriamente como estes sempre foram importantes.
Agora, a situação, deixa de ser um medalhão do novelista e se mostra arma poderosa para convencer que a sua TV acompanhe o por-do-sol junto às representações talentosas de atores que mais parecem ter um fogo entre as veias ao abrir a boca ou lançar um olhar e deixam tudo aquilo com "cara de novela".
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Tal força natural de atração vai além de render bons números no ibope - a trama que começou com 13 pontos herdados de Paraíso Tropical já chegou aos 19 e conseguiu oscilar, sem nenhuma crise, entre 15 e 18 mesmo em meio às Olimpíadas, evento que tradicionalmente deixa o consumidor de TV sempre em dúvida da grade fixa.
Em uma sociedade cada vez mais velha e saudosista, ver menos gente com trajetória e experiências de um outro tempo atuando comprova a falha que é a ausência de atores veteranos nos folhetins inéditos. É óbvio que muitos dos figurões consumidos pelo público por décadas já não estão entre nós, mas a realidade vai além: a falta se mostra também na criação de personagens e com eles, maneiras e comportamentos que têm sido evitados pela TV atual.
Seja ou não consequência um do outro, o fato de se assistir gente mais madura nos folhetins de hoje com certeza não era regra no tempo de Alma Gêmea, em que é póssível contar até oito atores, respeitosamente, encabeçados na "velha guarda", em questão de minutos de exibição de cada capítulo, realidade completamente inimaginável em qualquer uma das novelas exibidas atualmente.
A estratégia, por sua vez, vai na contramão da sociedade, De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de envelhecimento tem avançado no país (saltou de 30,7 em 2010 para 55,2 em 2022). Logo, imagina-se que cada vez mais sobra gente para se identificar com gente e histórias iguais a si - ou pelo menos desejadas ou já vividas.
Público este que não é apenas os que estão em casa no fim de tarde, senão a reprise da trama dirigida por Jorge Fernando também não viveria em batalha com nomes queridinhos do Globoplay entre os produtos consumidos via streaming.