Em entrevista à Contigo!, o ator Alexandre Barillari reforça o sucesso de Alma Gêmea, no ar na TV Globo, e enaltece o autor Walcyr Carrasco
Publicado em 12/09/2024, às 09h00
Em meio às gravações do filme Juntos para Sempre, baseado no livro homônimo de Walcyr Carrasco (72) e com previsão de estreia para 2025, o ator Alexandre Barillari (50) bateu um papo com a Contigo! sobre a nova reprise de Alma Gêmea (2005), na TV Globo. Na novela, também escrita por Carrasco, ele deu vida ao inesquecível vilão Guto. O artista reforça o sucesso da trama e enaltece o autor: “Para mim, um Shakespeare”.
Barillari conta que até hoje recebe o carinho e relatos especiais dos fãs do folhetim, que se tornou um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira. “Sobre o novo sucesso de Alma Gêmea, vinte e tantos anos depois da primeira exibição, o que mais me comove, me surpreende e me alegra é porque, pela primeira vez na história da dramaturgia brasileira, na história do Vale a Pena Ver de Novo, uma novela das seis é reprisada quase no mesmo horário, ou seja, no fim da tarde. Isso faz com que eu receba mensagens do tipo: ‘Como me lembro, agora, do cheiro do bolo fumegando na casa da minha avó, quando eu voltava da escola para lanchar e me reunia com a família em frente à televisão para assistir Alma Gêmea”, conta.
“Essas lembranças são muito específicas agora, porque o fim da tarde promove essa revisita à casa da avó, as famílias reunidas naquela época. Hoje é uma cena tão diferente. E eu adoro receber esse tipo de relato, esse tipo de feedback me emociona muito porque eu também tenho as minhas lembranças de tantas pessoas que já se foram nessas décadas que se passaram”, emenda.
O artista ainda faz uma reflexão: “E outra coisa que me surpreende é porque é um novo público. É quase como aquela história de reler o mesmo texto tantos anos depois. As impressões podiam ter deixado a novela datada ou infantil. E ao contrário, você refaz o sucesso com uma magnitude que me surpreende. É claro que a condução da novela de um tema tão atemporal e tão universal pelo Walcyr é irretocável. E é mais do que isso. Acho que eu nem posso atribuir tanto apenas a nós, humanos. É preciso que Deus queira. Já que a gente fala de uma temática que envolve esse intangível, essa transcendência toda; é preciso que Deus queira que tantas engrenagens, que fazem parte de uma novela, deem certo ao mesmo tempo. Dar certo uma vez é uma coisa, mas dar certo várias vezes é porque realmente Deus quer”.
'PRA MIM, UM SHAKESPEARE'
Barillari também comemora a força de seu personagem na trama e enaltece o talento de Walcyr Carrasco: “A morte do Guto não era prevista, pelo menos não estava na sinopse. Mas Deus também assim desejou que acontecesse. E a virada, o golpe teatral, o golpe dramático que se dá com a morte do Guto (...) Porque você brigar com as forças humanas é uma coisa. Agora, lutar contra as forças do invisível é outra coisa. E pra quem acredita, como que eu, que defronte a mim, não há um espaço vazio, mas um mundo cheio de energia invisível, isso dá ao personagem, como deu, um arco de trajetória surpreendente que talvez só Shakespeare seja capaz de urdir com tamanha precisão como o Walcy fez”.
E continua: “Aliás, eu sempre digo que se eu fosse Richard Burbage, protagonista da companhia de Shakespeare, o Walcyr teria sido, de certo, para mim, um Shakespeare. Afinal de contas, para mim, ele escreveu tantos personagens, tantas histórias. Foram na televisão quatro novelas, uma peça, agora um filme, enfim, são muitos encontros. Assim como Shakespeare com o seu protagonista na sua companhia”.
O ator ainda destaca que a longevidade de sua carreira se deve muito ao personagem Guto. “Lembram muito, mesmo antes da reprise, eu sempre fui o Guto de Alma gêmea. Eu me orgulho muito de ter um personagem como um desses antológicos, né? Cujos grandes atores tem um ou dois na vida. Eu tenho esse, e ele me alegra demais. Lembro de dizer sempre ao Walcyr que ele não me deu um personagem, ele me deu uma carreira. A longevidade da minha carreira se deve muito a esse fenômeno chamado Guto”, declara.
“Bom, é claro que eu não posso dizer que outra tenha sido tão importante até então, até agora, como Alma Gêmea para mim. Eu sou um ator que deseja me anular. Então, assim, eu não quero fazer o rapaz de Copacabana, sabe? Cuja vida eu conheça totalmente. Eu adoro aprender com o mundo dos personagens. No caso de Alma Gêmea, ter passado três dias dentro do presídio Ary Franco (no Rio de Janeiro), convivendo com aqueles olhares que eu escolhi ter emprestado ao personagem, ela me reconhece através do olhar. Todo mundo comenta sobre o olhar. Isso foi um aprendizado num laboratório dentro do presídio, nesses dias de convivência com pessoas que eventualmente mataram 30. Então, é esse outro lado do muro que me interessa, que me atiça, que me faz fazer um trabalho mais interessante. Alma Gêmea reúne tudo isso, sem desmerecer as outras”, acrescenta Barillari.
TRABALHO EM MALHAÇÃO
O artista relembra, em seguida, com carinho, o trabalho que fez em Malhação. “Tenho um trabalho, que eu gosto muito, que foram os dois anos de Malhação. Eu inventava tanto! Estou falando dos anos 90, do politicamente correto ainda menos impositivo, e a gente inventava muitas coisas. Éramos muito jovens, eu inventava muitas coisas a ponto de certa feita, eu receber o roteiro onde havia escrito: esta cena está a cargo do histrionismo do ator”, diz.
“Eu era jovem, mas isso para mim era uma vitória tremenda, vitória do improviso, do improviso que no humor é tão combinado. A experiência de ter feito uma Malhação ao vivo também é inesquecível, dessa pressão de estar ao vivo fazendo dramaturgia, inesquecível essa experiência. Sempre que eu posso me reconhecer, umas vezes mais, outras vezes menos, tenho isso como norte e como obsessão”, continua.
FILME JUNTOS PRA SEMPRE
Alexandre Barillari se prepara para viver um novo vilão em sua carreira. Desta vez, ele será o carrasco Andrés, responsável pelas mortes de vários personagens no filme Juntos para Sempre, que aborda os temas encarnação e reencarnação.
Para o longa, com direção de Adolpho Knauthe e produção de Jackeline Barroso, Barillari precisou raspar a cabeça. E como as gravações estão sendo realizadas em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, o ator revela curiosidades, principalmente por conta do frio.
“Estamos no inverno e a mais de dois mil metros de altura. Eis que de repente, o diretor sugere para que eu raspasse a cabeça; cheio de mesuras, muito tato (...) Achei a ideia maravilhosa, aceitei de pronto. Ele até se surpreendeu um tanto com isso, mas adoro me irreconhecer nos personagens. Nunca tinha feito uma mudança tão drástica assim”, diz.